Quem é Você, Alasca? Idealizada e sexualizada – Resenha com spoilers

Quem é Você, Alasca? – Resenha com spoilers

Observação: Algumas pessoas me disseram que em seu livro o apelido de Miles é gordo, e não bujão. Provavelmente essa foi alguma alteração que ocorreu apenas em edições mais recentes por não ser uma forma agressiva de se referir a alguém. 

Miles, o nerd em busca de Um Grande Talvez

Quem é Você, Alasca?” segue mais uma vez o padrão John Green de escrita onde temos uma garota descolada e um garoto que pouco conhece da vida. Miles Halter tem uma vida sem amigos e sem sentido quando resolve partir para a Culver Creek em busca de Um Grande Talvez.

Ao contrário de outros protagonistas parecidos como por exemplo o Quentin, de Cidades de Papel, Miles Halter não é muito envolvente e não faz nada de mais. Ele tem apenas a sua mania de decorar as últimas palavras de grandes figuras históricas, sendo que na maioria das vezes ele nem conhece as obras das mesmas, o que eu acho uma imensa falta de respeito e talvez comece a nos dar pistas de como é o nosso personagem principal: raso, imediatista e fútil.

Quem é Você, Alasca? Muito além das aparências

Alasca Young é uma personagem envolvente, e cheia de profundidade. Profundidade essa que Miles, ou melhor, Bujão, nunca foi capaz de explorar. Beleza, inteligência e carisma – Alasca esconde toda sua tristeza atrás dessas coisas e demora muito tempo para se perceber que ela é uma pessoa profundamente triste.

Logo na primeira aparição Alasca já faz algo inesperado: abaixa as calças de Bujão, o misto de surpresa com o sentimento de ver uma pessoa livre, instantaneamente despertam o amor e a curiosidade do nosso não tão querido protagonista.

Uma chuva de spoilers sobre Alasca

Exatamente isso que você leu, essa resenha estará cheia de spoilers então é altamente recomendável que você leia o livro primeiro. Pela natureza da obra dividindo seu tempo em antes e depois, seria impossível falar dela sem tratar de seu ponto central: a morte de Alasca, e a maneira que seus amigos lidam com isso.

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Sinopse: Quem é Você, Alasca?

Miles Halter estava em busca de um Grande Talvez. Alasca Young queria descobrir como sair do labirinto. Suas vidas colidiram na Escola Culver Creek, e nada nunca mais foi o mesmo. Miles Halter levava uma vidinha sem graça e sem muitas emoções (ou amizades) na Flórida. Ele tinha um gosto peculiar: memorizar as últimas palavras de grandes personalidades da história. Uma dessas personalidades, François Rabelais, um poeta do século XV, disse no leito de morte que ia “em busca de um Grande Talvez”. Para não ter que esperar a morte para encontrar seu Grande Talvez, Miles decide fazer as malas e partir. Ele vai para a Escola Culver Creek, um internato no ensolarado Alabama. Lá, ele conhece Alasca Young. Ela tem em seu livro preferido, O general em seu labirinto , de Gabriel García Márquez, a pergunta para a qual busca incessantemente uma resposta: “Como vou sair desse labirinto?” Inteligente, engraçada, louca e incrivelmente sexy, Alasca vai arrastar Miles para seu labirinto e catapultá-lo sem misericórdia na direção do Grande Talvez. Miles se apaixona por Alasca, mesmo sem entendê-la, mesmo tentando sem sucesso decifrar o enigma de seus olhos verde-esmeralda. 

Quem é você, Alasca?

Se você quer aproveitar ao máximo a sua leitura com direito a um posfácio super envolvente e com alguns trechos apresentados da maneira que eles eram no primeiro rascunho do livro, compre a versão comemorativa, você não vai se arrepender.

Quem é você, Alasca?

Como vou sair desse labirinto?

A história tem uma pegada reflexiva muito forte, isso fica claro tanto pelo livro favorito de Alasca, O general em seu labirinto, quanto pelo grande foco nas discussões sobre religiões nas aulas do Sr Hyde.
O Sr Hyde sempre levanta questões sobre a vida e pede para os alunos refletirem sobre como cada uma das três grandes religiões do mundo lida com elas. 

Os alunos da Culver Creek estão divididos basicamente entre os amigos de Alasca, e os guerreiros de segunda a sexta-feira. As reflexões sobre vida, morte e sofrimento, tendo como base as grandes religiões do mundo, fica visível apenas para o grupo dos amigos de Alasca, já que o restante parece não se importar.

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Aproveite o momento, diz o Sr Hyde

Um momento que me marca bastante na história, é quando o Sr Hyde está dando aula sobre o budismo e Miles está simplesmente observando a beleza da grama do lado de fora da sala. O Sr Hyde levanta a seguinte questão: “Para apreciar a beleza de fora da sala você deixou de apreciar a beleza do momento que estávamos vivendo aqui dentro.” em seguida coloca bujão para fora da sala. Tirem suas próprias conclusões sobre o ocorrido e sobre estar presente no momento. 

Acidente ou suicídio? Como Alasca saiu do labirinto

Alasca via a vida como um grande labirinto do qual ela não sabia como sair para escapar de seu sofrimento, o que nos traz à questão central da obra após a morte da nossa contagiante personagem: acidente ou suicídio?

A verdade é que nunca poderemos saber o que de fato aconteceu com Alasca naquela noite, mas em minha mente e nos meus mais terríveis pesadelos, Alasca se matou. É a única coisa que consigo pensar ao me lembrar de toda a tristeza que ela carregava consigo, e que ninguém conseguia enxergar, inclusive nosso não tão querido Miles Halter.

Mesmo que fosse um acidente, sair de carro naquela situação para mim ainda poderia ser caracterizado como um suicídio.

Miles só pensa em uma coisa

Algo que não consegui me conformar até hoje é com o quanto Bujão era egocêntrico, focado apenas no seu próprio bem e com a empatia sendo uma característica bem em falta. Tanto na noite da morte de Alasca, quanto depois dela, o único pensamento de Miles era o seu “depois”, a continuação que Alasca tinha prometido a ele após o seu beijo.

Miles procura constantemente provas de que Alasca estava indo terminar com Jake, e tenta até mesmo distorcer os fatos para conseguir acreditar nisso. Para conseguir acreditar que Alasca estava secretamente apaixonada por ele e que haveria um depois, ficando logo em seguida irritado e se sentindo o mais prejudicado com a morte de Alasca, já que provavelmente não iria transar tão cedo.

No final Miles estava mais preocupado em transar com Alasca do que com qualquer outra coisa, e isso me faz achá-lo um babaca, porém vale lembrar: quase todo mundo já foi igual o Miles alguma vez, um babaca, então chega de bater nele.

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Considerações finais: Reflexões sobre “Quem é você, Alasca?”

Acredito que tendo sido um nerd por boa parte da minha vida, eu me identifiquei com Miles em alguns momentos, mesmo achando ele um babaca ao terminar de ler o livro. Sendo assim fico com a reflexão de que está tudo bem tentar expandir o seu mundo ou buscar coisas novas desde que você respeite a dor das outras pessoas.



Alasca era a representação da liberdade, e me lembrei de várias pessoas que eu gosto conforme fui conhecendo ela melhor. Alasca fala abertamente sobre sexo, bebidas, aproveitar a vida, morte. Ela é de uma determinada maneira, aceita e age de acordo com isso, e sinceramente não existe nada mais encantador do que alguém que vive de acordo com seus próprios padrões.

Lara me fez pensar sobre como é possível ser feliz sem ter ou fazer coisas muito extravagantes, e isso foi incrível. Ela era provavelmente a pessoa mais estável do grupo de amigos e seu carisma me encantou.

O Coronel e a sua fidelidade com seus amigos é algo invejável, e que eu adoraria ver os jovens, e quem sabe os adultos, se inspirando. Sem ele não sei como essa história iria me prender.

Acredito que o autor fez um ótimo trabalho no desenvolvimento dos personagens no início da história, de outra maneira tudo teria caído aos pedaços após a morte de Alasca. E claramente não caiu. “Quem é você, Alasca?” ganha um espaço imenso no meu coração, porém ainda fico aguardando o livro que irá superar O Apanhador no Campo de Centeio.
 
Carinhosamente
Marcos Mariano

Marcos Mariano
Marcos Mariano

Tenho 30 anos e sou apaixonado por jogos, animes, tecnologia, criptomoedas e literatura. Atualmente estudo Marketing Estratégico Digital e mato meu tempo escrevendo qualquer coisa que passe pela minha cabeça.

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