Resposta: 30 opiniões controversas sobre animê e manga

Reflexão sobre as opiniões não tão controversas do blog “É Só Um Desenho”

Se tem uma coisa que eu amo nessa vida de blogs e internet é encontrar pessoas que não tem medo de dar suas opiniões, doa a quem doer. O Diego Gonçalves, criador do blog “É Só Um Desenho” é uma dessas pessoas, e hoje vamos comentar um pouco sobre a sua postagem chamada “Minhas 30 Opiniões Controversas Sobre Anime e Mangá!“.

Nesse texto, o Diego apontou 30 opiniões suas sobre animês e o mundo otaku. Meu comentário no blog dele acabou ficando tão grande que pedi autorização para criar uma postagem em resposta ao texto dele.

As 30 opiniões controversas

1) Pirataria é um problema de acesso, não de caráter. Adoraria viver em um mundo no qual ela não fosse necessária, mas não acredito que estamos lá ainda.

Qualquer pessoa que discorde disso com certeza não viver o mundo dos animês 10 ou 15 anos atrás quando não existia quase nenhuma opção oficial para assistir às obras. As obras que chegavam ao Brasil eram exibidas na televisão aberta cheias de censura.

Quem queria assistir algo completo, diferente e legendado tinha que recorrer aos tão famosos RMVB’s. Mesmo assim era uma batalha já que nem todo mundo tinha uma boa internet.

Alguns anos depois chegou a Crunchyroll com um catálogo de animes interessante, porém com pagamento em dólar e um preço não tão acessível para todas as demografias. Até hoje, mesmo com a existência de diversos serviços de streaming, consumir animês de forma legal é um desafio financeiro, e sei que nem todos tem as condições que eu tenho.

2) Companhias (plataformas de streaming, editoras de mangá, etc.) não são suas amigas, e merecem ser criticadas quando o produto que entregam desagrada o consumidor.

Impossível discordar desse também, afinal, estamos consumindo um serviço ou produto, e queremos que ele seja de qualidade.

Acredito que passamos tanto tempo esperando as coisas chegarem oficialmente para nós, que acabamos aceitando qualquer coisa oferecida, e não é bem assim que deveria ser. Nosso deve como consumidores dessas mídias é cobrar e dar feedback para melhorar a qualidade dos produtos.

3) Netflix enquanto financiadora foi algo bom para a indústria do anime. Netflix enquanto distribuidora é algo terrível para os consumidores de anime.

Apesar de assistir vários animês da Netflix admito que nunca parei para pensar no trabalho dela como financiadora ou distribuidora de animês. Como o próprio Diego me falou nos comentários, um dos problemas seria o fato da animação ser lançada aqui com vários meses de atraso.

Provavelmente esse atraso se deve ao fato da Netflix sempre lançar as obras completas de uma única vez ao invés de adotar o lançamento semanal como outras plataformas de streaming.

No momento discordo desse ponto já que para mim isso nunca foi um problema, raramente busco na Netflix a opção de assistir que está com o hype muito alto, então tudo bem esperar.

4) Streaming é uma bolha em vias de explodir. Quanto mais serviços, mais o conteúdo se espalha e menos atrativa cada plataforma parece.

Me sinto da mesma maneira, parece que lá atrás quando só a Crunchyroll era uma alternativa viável para assistir animês, eu sentia a comunidade e as obras de uma maneira diferente. Agora parece que está tudo em todo lugar.

Mas isso tem seus benefícios também, diversas obras que antigamente não podíamos assistir de maneira oficial estão ficando disponíveis em diversas plataformas. Vejo também um esforço para fazer dublagens, que apesar de eu odiar, e ótimo para introduzir crianças ao mundo dos animês.

5) Não deviam traduzir honorífico. Ao invés, deviam ou deixá-los como são, com uma nota de glossário, ou removê-los por completo. Toda tentativa de adaptação soa truncada e pouco natural.

Além das tentativas de tradução não ficarem naturais parece que estão roubando parte da essência da obra. Não sei se uma boa adaptação é possível, mas com certeza essa reflexão deve ser levantada.

6) A “gourmetização” do nosso mercado de mangás afasta muito mais pessoas do que atrai. Para a maioria, preço fala muito mais alto que uma lombada bonita.

Esse é um tema importante a ser discutido também já que o preço do mangá é uma das grandes barreiras que impedem as pessoas de entrar e se aprofundar nesse mundo. Imagine quanto uma pessoa gastaria para acompanhar tudo que tem saído a cada temporada?

Eu mesmo prefiro mil vezes um mangá com um acabamento mais simples e um preço mais acessível do que qualquer outra coisa.

7) Eu odeio mangás digitais. Nunca substituirão o bom e velho papel.

Eu te entendo, porém, apesar de amar o papel acredito que um serviço oficial de mangás digitais no Brasil seria maravilhoso para todos. Infelizmente todos que conheço só oferecem material em inglês.

Esse é o primeiro ponto onde eu vou por um caminho totalmente diferente. Eu não vejo os materiais digitais como uma substituição mas sim como uma possibilidade que pode garantir que muitas pessoas que atualmente não tem acesso (pelo menos não de maneira legal) passem a ter.

8) Ser popular não é sinônimo de qualidade, mas também não é sinônimo de ser ruim. Se uma obra atinge um certo nível de popularidade, alguma coisa certa ela fez.

Existem muitos fatores que fazem uma obra atingir a popularidade ou não. Sempre penso em Kimetsu no Yaiba que apesar de ter tido um hype absurdo e agradado uma legião de fãs, na minha opinião é um anime mediano com boas animações.

Claro que em certo nível algo certo sempre vai ter, mesmo que dure apenas uma ou duas temporadas.

9) Uma boa história faz tudo muito bem. Uma ótima história faz uma coisa de modo excepcional

Concordo plenamente. Sempre que preciso pensar nessa diferença entre uma história boa e uma excepcional me lembro de Hunter x Hunter ou Code Geass, acredito que poucos animês consigam entregar as histórias tão bem como esses.

Quando você lê o mangá ou assiste o animê fica claro que a história está em outro nível, e eu amo isso.

10) Histórias não são um monólito. E quase sempre há coisas que uma história faz bem e outras que ela faz mal. Poucas são inteiramente boas ou ruins (se alguma).

Concordo plenamente, a perfeição vai completamente contra a essência da vida, logo não pode existir tal coisa como uma história que faça tudo bem.

Até existem algumas obras que mexem com nossos sentimentos e dão aquela sensação de “porra, que obra perfeita”. Foi assim que eu me senti quando assisti Darling in The Franxxx, porém esse sentimento é só uma ilusão.

11) “Você pode gostar, só aceite que é ruim” é uma frase que eu desprezo.

É uma frase que eu também desprezo, é quase como querer decidir pelo outro o que é bom ou não, e isso é bem podre. Cada pessoa tem sua própria maneira de olhar o mundo e os animês e mangás que acompanha, isso sim deve ser aceito.

Infelizmente sempre tem algum sem noção no meio do fandom que se acha melhor que as pessoas de outro grupo e começa bostejar coisas desse tipo acreditando que a obra da qual é fã seja imaculada.

12) Uma boa análise não diz se a obra é boa ou ruim. Diz, sim, o que a pessoa que fez a análise tirou daquela obra.

Esse é o ponto que eu mais concordo, já que é o critério que eu sempre uso para escrever as resenhas de animê aqui da Pousada Nerd. Quando vou escrever uma análise, seja de livro, jogo, animê ou mangá, eu sempre tento extrair como aquela obra me marcou ou o que eu aprendi naquele processo.

Dizer se uma obra é boa ou ruim é algo quase impossível, já que muito disso é subjetivo, logo o que pode ser bom para mim, pode não ser para você. Foque sempre nos aprendizados, acredite, eles estão nos lugares mais inesperados, como é o exemplo de Ao-chan Can’t Study!

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13) Problematização é apenas outra forma de crítica. Concordar com cada análise vai de cada um, mas o método, tem valor e lugar na discussão.

Sempre que temos algum espaço de discussão problematizar se torna extremamente importante, de outro modo, o conteúdo perderia muito do seu valor. Se queremos que as obras transmitam uma mensagem e que as pessoas reflitam sobre isso, problematizar é quase uma obrigação onde couber.

E acreditem diversas obras estão cheias de cantos tortos para serem atacados.

14) Anime, como mídia, tende a reforçar valores conservadores muito mais do que valores progressistas. Mas claro: há exceções.

 Já que os animês no geral contribuem muito mais para um cenário conservador, é de extrema importância problematizar diversos animês e mangás, quando couber a análise. Isso complementa o assunto anterior.

Muitas vezes os animês transmitem valores que são enraizados profundamente na cultura oriental e nós devemos filtrar muito bem tudo isso.

15) Lolicon e shotacon não são, e nem deveriam ser, ilegais. O que não significa que você não possa ou não deva criticar. Só que não vejo razão para proibir, salvo por puro pânico moral.

A proibição ou não disso diz muito mais sobre as pessoas que consomem esse gênero do que o gênero em si.

Eu particularmente não consumo e não vejo nada de especial nesse tipo de obra, então não entendo porque toda essa fixação no gênero que sabemos que algumas pessoas têm.

Acredito que quanto menos desenvolvido um país for, mais necessária se torna a limitação da circulação dessas obras, já que em um local com mais acessos a recursos uma discussão será mais real.

16) Ship os casais que você quiser. Fiscal de fandom é uma das coisas mais imbecis que eu já vi.

Fiscalizar ship é a coisa mais idiota que existe. Sério, você precisa estar muito sem o que fazer e mergulhado até a testa no fandom pra começar a se importar com essas coisas. Simplesmente bizarro.

17) A noção de que o otaku se importa apenas com porradaria e peitos é, na maioria dos casos, falsa. Pessoas são mais complexas do que isso.

Não é só peito e porrada não, tem as bundas também. Brincadeirinha, com certeza nós otakus somos mais complexos que isso.

Eu, por exemplo, sou um amante de animes slice of life, ou seja, estou sempre muito mais focado no que eu posso aprender com cada obra do que no tamanho dos peitos das meninas que cercam o protagonista.

18) Há dois grupos maiores de fãs de anime e mangá no Brasil: o pessoal que só vê anime dos anos 80 pra trás e o pessoal que só vê anime da temporada. Faltam espaços que comportem ambos.

Realmente existe um abismo entre esses dois mundos e seria bem legal fazer uma conexão entre eles. Um é levado pelo hype e o outro pela nostalgia.

Por algum motivo eu imagino reedições de obras antigas com uma qualidade maior e com um ritmo melhor, como foi o caso de Dragon Ball Kai, como a solução perfeita para isso.

19) Muita gente endeusa os animes que viu na infância. Me pergunto quantos se deram ao trabalho de voltar a eles e ver se são tão bons quanto a nostalgia os faz pensar.

Discordo, toda arte tem seu peso no momento que existiu. Seria injusto sair daqui de 2020 e ir criticar uma obra dos anos 80. Ela era boa sim, pelo momento que foi criada. Acredito que essa seja uma maneira diferente de olhar.

Comparar a qualidade de uma obra de anos atrás com uma de hoje é quase impossível, são contextos completamente diferentes, até mesmo em questão de acesso e disponibilidade.

20) Tem muita gente que se diz fã de anime, mas quando você vai ver a pessoa só gosta daquelas séries mais sanitarizadas que passam longe da média da mídia.

Não quero ser fiscal de fã, então se a pessoa se considera fã mesmo tendo visto só as ditas “séries mais sanitarizadas”, que ela seja feliz com essa decisão.

21) Você não precisa ver centenas de animes para ser um otaku. Mas quando você só se interessa por um ou dois você não é fã da mídia: é fã de algumas séries em específico.

Novamente, não quero ser fiscal de fã e acredito que se a pessoa se considera otaku mesmo tendo visto poucas obras quem se importa com isso? O próprio termo otaku ja chegou todo distorcido pra gente aqui no ocidente, não vamos complicar mais ainda as coisas.

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22) Há muitos animes bons no passado. E também há muito cyberpunk genérico.

 Claro que existem obras que definitivamente não foram boas, mas existem muitas que foram sim, por mais que hoje pareçam coisas absurdas. Como disse em um dos pontos anteriores, comparar as obras através do tempo olhando com a visão que temos agora chega a ser injusto.

23) Há muitos animes bons hoje em dia. E menos isekai do que a internet faz parecer.

Concordo plenamente, acho que o boom recente do gênero criou uma noção um pouco distorcida sobre quais animes estão disponíveis. De novo, isso tem efeitos positivos e negativos.

Por um lado pode criar uma noção distorcida de como são os animês, mas, por outro lado, pode trazer muitas pessoas para o mundo otaku, o que seria maravilhoso.

24) De modo geral, eu preferia quando animes tinham mais liberdade para fazer um final original do que agora, onde uma série termina em clifhanger para nunca mais ser continuada.

Também odeio essa onda de animês que nunca tem sua continuação, me broxa um pouquinho, ainda mais porque meu gênero favorito é slice of life, o recordista em animês descontinuados.

25) A “ordem correta” de se assistir qualquer série ou franquia é a ordem de lançamento.

Concordo com uma certa dor no coração, já que sinto desespero em ficar assistindo fillers.

26) De modo geral, o “anitube” anglófono é muito mais desenvolvido que o brasileiro, em termos de variedade, abordagens e profundidade da análise.

Não tenho informações suficientes no momento para concordar ou discordar. Mas com certeza é algo que vou procurar saber para trazer aqui no blog.

27) Faltam canais de anime e mangá aqui no Brasil cuja apresentação não faça parecer que eles têm bebês como público-alvo. Não aguento mais um jumpcut por palavra!

Concordo plenamente, recentemente comecei a procurar canais com um conteúdo mais embasado e o mais próximo disso que eu cheguei foi o material do Chimichangas. Mas isso mostra um local onde podemos trabalhar para melhorar a comunidade.

28) A palavra “top” me irrita. Mas o formato em si de lista tem os seus méritos.

Eu odeio a palavra top, mas no fim acabo usando ela algumas vezes quando vou fazer listas de animes ou de personagens. Querendo ou não é uma das coisas que mantém o meu blog vivo. Então é mais uma questão de sobrevivência que de gosto.

29) Nosso meio (assim como toda a internet) se tornou averso ao debate e à discussão. As pessoas querem ou pregar a sua uma verdade incontestável ou fingir que certos assuntos nem existem.

Concordo, felizmente nessa postagem que você fez no “É Só Um Desenho” estamos fazendo vários progressos com relação à discussão na comunidade otaku, e isso é maravilhoso.

30) Poucas pessoas parecem interessadas em discutir animes com profundidade. Mesmo entre aqueles que gostam de ver outras pessoas discutindo animes com profundidade.

Discutir animês com profundidade vai um pouco além de só assistir animê, e exige uma reflexão que muitas pessoas não estão dispostas a fazer. Para muitos o animê e os mangás são apenas meios para aliviar o stress, e tá tudo bem com isso.

Essa é minha opinião sobre suas opiniões controversas que não são tão controversas assim.

Não tão controverso

No final as opiniões expostas na postagem acabaram sendo menos controversas do que se esperava, mas ainda assim cumpriu um papel importantíssimo: colocou boa parte da comunidade para refletir sobre todos esses pontos.

Agradeço mais uma vez ao blog “É Só Um Desenho” por autorizar a utilização desse material nessa postagem, o trabalho que você faz nesse blog é digno de admiração, e eu vou estar acompanhando de perto.

Não deixem de acompanhar o trabalho do Diego:

Ficamos por aqui com essa resposta às “30 opiniões controversas sobre animê e manga” que no final acabou se tornando uma imensa reflexão. Nos vemos em breve, até logo.

Carinhosamente
Marcos Mariano

Marcos Mariano
Marcos Mariano

Tenho 30 anos e sou apaixonado por jogos, animes, tecnologia, criptomoedas e literatura. Atualmente estudo Marketing Estratégico Digital e mato meu tempo escrevendo qualquer coisa que passe pela minha cabeça.

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